Se você é professora de Língua Portuguesa, provavelmente já viveu essa cena: você propõe uma atividade de leitura ou escrita, mas os alunos… estão desenhando. Com traços suaves, paletas pastel e uma vibe acolhedora, os desenhos no estilo Bobbie Goods invadiram os cadernos — e tomaram o lugar da produção textual.
Mas será mesmo que isso é um problema?
Neste post, vamos refletir sobre o impacto do Bobbie Goods na sala de aula e apresentar uma proposta prática para transformar essa estética visual em combustível para a escrita criativa.
O que é Bobbie Goods (e por que os alunos estão obcecados por isso?)
Bobbie Goods é o nome artístico de uma ilustradora que viralizou com vídeos curtos de desenhos fofos, relaxantes e reconfortantes. Ela criou uma estética que virou tendência entre adolescentes: casinhas acolhedoras, xícaras com carinhas felizes, piqueniques com animais e cenas de cotidiano que mais parecem saídas de um sonho pastel.
Com milhões de visualizações no TikTok e Instagram, essa estética ganhou os corredores escolares. O problema? Muitos alunos estão mais interessados em colorir cenas Bobbie Goods do que em escrever um parágrafo com coesão.
O desafio do Bobbie Goods na sala de aula
Na prática, o que vemos são estudantes mergulhados nos próprios rabiscos, enquanto a aula de produção textual vira trilha sonora de fundo. A estética Bobbie Goods se tornou um refúgio — e às vezes, uma fuga.
Não se trata de demonizar o desenho. Desenhar é expressão. É linguagem. O desafio está em resgatar a atenção dos alunos sem cortar o encanto.
Como fazer isso?
Se não pode com o inimigo, junte-se a ele (com estratégia)
Aqui entra o ponto central desta proposta: transformar o Bobbie Goods em aliado pedagógico. Se os alunos estão encantados com essas cenas, vamos usá-las como ponto de partida para a produção de texto.
Em vez de reprimir a estética, vamos puxar dela a narrativa.
Proposta prática: escrita criativa a partir de cenas Bobbie Goods
Você pode aplicar essa atividade em qualquer ano do Ensino Fundamental II. A proposta é simples, mas altamente eficaz:
- Selecione imagens no estilo Bobbie Goods (ou peça para os alunos criarem).
- Peça que escolham uma imagem e escrevam uma narrativa curta, explorando:
- Quem são os personagens?
- O que está acontecendo na cena?
- Qual é o conflito ou o mistério por trás daquela calmaria?
- Que voz narradora daria vida a esse universo?
- Variações possíveis:
- Diário de um personagem da imagem
- Carta escrita entre personagens
- Reescrita da mesma cena sob outro ponto de vista
- HQ com falas e narração
Benefícios pedagógicos da atividade
Trabalhar com Bobbie Goods na sala de aula não significa abrir mão da disciplina — significa usar a estética como ponte para habilidades essenciais:
- ✔️ Desenvolver empatia e criatividade narrativa
- ✔️ Trabalhar estrutura de texto (início, meio e fim)
- ✔️ Praticar coesão e coerência a partir da imagem
- ✔️ Reforçar o vínculo afetivo com a escrita
- ✔️ Estimular protagonismo e autoria
Além disso, os alunos se sentem vistos. Quando trazemos seus interesses para a aula, mostramos que o conhecimento pode dialogar com a vida — e isso tem poder.
Não é sobre desenho ou texto — é sobre escuta
O Bobbie Goods na sala de aula nos revela algo maior: os alunos querem criar. Querem contar histórias. Querem um espaço onde o mundo deles caiba.
Cabe a nós, professores, transformar o lápis colorido em caminho. Fazer da caneca sorridente um personagem. Do piquenique ilustrado, uma cena com enredo. E mostrar, com afeto e estratégia, que escrever também pode ser tão gostoso quanto desenhar.
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